COLOCANDO O CONHECIMENTO NA MÃO DO PACIENTE
Depressão
Estar triste é um estado perfeitamente normal.
A tristeza é uma estratégia evolutiva, que põe o homem em um estado mais recolhido e reflexivo, justamente para que nesse processo ele encontre uma solução através do autoconhecimento para o dilema moral vivido.
O que é esperar de uma pessoa emocionalmente saudável? É que os momentos de tristeza resultem em mudanças positivas na vida do indivíduo devido o autoconhecimento adquirido através das reflexões produzidas por esse estado e essas mudanças darem alivio a própria tristeza.
Ou então quando se trata de algo que nada pode ser feito a respeito, como a perda de um ente querido, a tristeza se estende por um período de luto que varia de pessoa para pessoa, podendo durar de 6 meses a um ano e depois naturalmente o humor da pessoa se cura.
A tristeza patológica começa quando o dilema moral vivido produtor da tristeza é mais complexo do que o que o indivíduo consegue digerir. Ou quando o indivíduo voluntariamente escolhe não digerir. Qual é o resultado disso? A revolta e a não aceitação da tristeza agravam a própria tristeza ao invés de aliviá-la. Então esses episódios que deveriam ser benignos, vão gerando um estado de humor mais progressivamente mais patológico. Resultando em um processo de depressão ou ansiedade.
Compreendendo isso, concluimos que as causas de índices tão elevados de depressão, ansiedade e problemas psiquiátricos na atualidade na nossa população está diretamente relacionado a situações de sofrimento social difíceis de digerir como: pobreza, desemprego, pressão laboral, violência urbana, discriminação. E de uma educação precária em auto conhecimento e gestão emocional que ofereça recursos para que o indivíduo seja capaz de digerir emocionalmente os dilemas morais de sua vida.
Inclusive muitas vezes o indivíduo é justamente ensinado a negar o que está sentindo. E consequentemente nega seu poder de fazer qualquer coisa a respeito.
Afinal a tristeza só se torna sofrimento quando não é aceita.
Quando devemos suspeitar que estamos diante de um quadro de tristeza patológica?
A tristeza patológica é aquela que promove um prejuízo significativo emocional e/ou social.
Prejuízo do autocuidado: A pessoa não cuidar mais adequadamente da higiene do próprio corpo e da própria saúde por desânimo. Para de tomar banho, escovar os dentes, pentear o cabelo, não tomar mais os remédios que necessita e não cuidar da própria casa, são exemplos.
Outros sinais são alterações importantes de sono e de apetite. Episódios de depressão maior podem concorrer com hipersonia. A pessoa dormir muito ou não querer se levantar da cama e sair do quarto nem para se alimentar. A depressão maior pode ocorrer também com anorexia importante. A pessoa não sente mais fome e muitas vezes perde peso muito rapidamente ao longo de poucas semanas.
Nos casos onde a pessoa apresenta transtornos misto de depressão e ansiedade ela pode apresentar perda de sono, insônia, aumento do apetite, compulsão alimentar e aumento do peso.
Se você está na duvida se o seu caso se enquadra em um quadro de tristeza normal ou patológica é necessário a consulta com um profissional de saúde mental: Psicólogo ou Médico Psiquiatra para esclarecimento.
A depressão é uma doença grave. Que hoje atinge em torno de 300 milhões de pessoas em todo o mundo segundo o Organização Mundial de Saúde. É um estado de saúde que deve ser reconhecido, respeitado e tratada adequadamente como qualquer outra patologia
E se você já se reconhece como portador desse quadro é importante compreender que a terapêutica medicamentosa é fundamental em muitos casos, entretanto que o tratamento principal e insubstituível é a psicoterapia. Pois é ela que identifica as raízes do sofrimento emocional e auxilia o paciente a ressignificar sua relação com essas raízes.
A cura verdadeira vem de dentro, é feita com auxílio de profissionais, mas pelo próprio paciente.
Saúde Mental no Homem
Diversos estudos mostram que as estatísticas de saúde masculinas são muito piores que as femininas.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a cada três mortes de adultos no Brasil, duas são de homens. No Brasil, os homens vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e também apresentam mais doenças do coração, câncer, diabetes, além de níveis de colesterol e pressão arterial mais elevados, segundo a Opas.
Os homens possuem índices muito aumentados de depressão, ansiedade, suicídio, abuso de drogas e criminalidade. Dados do Ministério da Saúde apontam que a taxa de mortalidade por suicídio entre homens é de 9,2 para cada 100 mil. Este índice é quase quatro vezes maior do que o registrado entre mulheres.
Segundo Data SUS em 2010 91% das vítimas de assassinato eram homens. E os negros correspondem a 77,41% dos homens assassinados.
Gráficos do Atlas da Violência - 2017.
Vitimas de mortes violentas comparando Homem e Mulher
Vitimas de mortes violentas comparando Brancos e Negros
Os homens também estão na frente nas estatísticas de morte por acidente de trabalho, de encarceramento, autores de crimes violentos, morte por abuso de substâncias e etc.
O que essas estatísticas significam?
Essas estatísticas denunciam um problema estrutural da nossa sociedade e de toda a sociedade ocidental.
O homem é educado na sociedade ocidental para entender que não deve demonstrar sentimentos. Aprendemos desde cedo a engolirmos nossos choros. Que sentimentos e sensibilidade são sinais de fraqueza. E que violência e agressividade são sinais de força, quando na verdade são sinais de adoecimento mental e emocional. Assim muitos homens crescem negando seus sentimentos, produzindo um estado interno de enfermidade moral que os torna mais agressivos, instáveis, violentos, infelizes e etc..
A pupulação negra acaba sendo a maior vítima desse estado de coisas, justamente por ter um acesso muito menos amplo a educação e saúde, e quando tem o acesso geralmente é precário. É uma população que sofre discriminação estrutual, exposta a pobreza, a violência das áreas de risco que ocupam e a violência policial.
Você enquanto homem que sente que está passando por um processo de sofrimento emocional. Não guarde isso apenas para você. Valorize sua saúde. Valorize sua vida. Procure ajuda!
A Seguir o documentário The Mask You Live In
Esse é um documentário rigorosamente científico que trás uma discussão ampla sobre como o ideal de masculinidade se relaciona diretamente com sofrimento emocional dos homens e as estatísticas terríveis que discutimos acima. Altamente recomendado para todos os homens, emocionalmente doentes ou saudaveis, que querem se conscientizar e se capacitar para pensar a sua própria realidade, ao invés de ser deixar ser pensado por ideais falídos, embrutecedores e adoecedores que redundam sempre em trajédias maiores ou menores.
Matéria escrita pelo nosso colaborador, clinico geral e medico do trabalho: Thales Machado.
Thales Machado: tem formação em Ayurveda e Medicina do Trabalho com 6 anos de atuação como médico examinador.
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